quinta-feira, 26 de março de 2009

Feitos de silencios e sons…
A razão cala o coração dispara...
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De quantos silencios é feita a expectativa? Quantos sons permeam estes silencios? Quais são as vozes que fazem calar o peito, impingindo a ele um silencio deveras não seu?

Existem sons que trazem silencios que sustentam a razão. E, de uma maneira tal, que fazem calar no peito aquilo que o corpo precisa como sinal de vida. São os silencios que povoam as expectativas... misto de alegrias pelas possibilidades supostas e medo do quê possa vir silenciosamente habitar o sentir.

Existem sons que teem uma relação intrínseca com a expectativa.
O “clicar”do mouse, o “bip” ou qualquer outro “som de alerta” anunciando quem chega ao seu objeto de comunicação – seja celular, skype, MSN e/ou Sala de Bate Papo.

Há algum tempo, esses sons substituíram o barulho das chaves na porta da frente. Sentia-se um frio no estômago e, este escorria por todo o corpo... porque era a hora do abraço cheio da saudade de um longo dia feito de ausências.
As chaves da porta da frente, na realidade, abriam (para muitos ainda abrem) emoções tantas, que não entendo o porquê de nunca se ter feito um monumento a elas. E lá poderiam estar inscrições do tipo: A CHAVE QUE ANUNCIA O MEU AMOR ou A CHAVE QUE ABRE A PORTA QUE ILUMINA OS MEUS MELHORES SENTIMENTOS ou ESTA CHAVE É A QUE TRANCA OS MEUS MEDOS... e por aí afora – sugiro, pense numa inscrição para a sua chave... rs...

A chave objeto concreto, tem um poder incontestável sobre a vida humana. No sentido figurado ou literalmente, dispondo explicações pormenorizadas, sobre suas funções, pode contar muitas histórias. Das mais íntimas às mais suspeitas pela madrugada afora.
Ela ainda traz simbolicamente o poder de libertar o sucesso pessoal de cada ser ou trancar de vez e impedi-lo. E, então poder-se-ia perguntar: ONDE ESTÃO AS CHAVES QUE PODEM ABRIR AS PORTAS TRANCADAS QUE IMPEDEM QUE EU FAÇA UMA VISITA AO MAIS ÍNTIMO DE MIM MESMO? – Pois é, o mouse, os bips etc, aposentaram o sons das chaves. Foram até mais longe, substituíram também o velho barulho do ronco dos motores dos carros velhos. E também dos novos.
Seus sons – do clicar, do bip etc – substituíram também as buzinas. Acabaram por contribuir para a despoluição sonora à frente dos prédios, que conviviam a qualquer hora com os “fonfons” e outros sons mais alucinantes.
Eles – o clicar e os bips, etc – diminuíram a poluição do ar... rs... Já não se anunciam mais a chegada com o velho cheiro de gasolina, quando, ao arranque do motor, podia-se correr reconhecendo o carro da pessoa amada.

Tudo isto acontecendo...
Mas, estes sons (o clic, o blurup etc) regem um silêncio muito maior nas salas. Um silêncio muitas vezes imposto pela razão, que se perde e se retira de si mesma. E explode em urros que o coração declara (e em silencio), as emoções ao reconhecer quaisquer desses sons em determinados momentos.
Este estado de espera faz sobressaltar o sangue das veias exigindo mais movimento do coração – este que abriga os urros cortantes do silêncio imposto pela razão.

Quantas serão as vezes em que a expressão maior do riso de contentamento, terá que ficar no silencio da sala onde se encontram a sós todos os sentidos? Onde se encontram o pulsar silencioso de uma emoção contida... não saciada no seu desejo de tocar , de sentir o aroma da pele do corpo que se desconhece.

Feitos de silêncios e sons são as emoções do pós modernismo. Silêncios, sons...\

Às vezes o grito sai numa melodia quase silenciosa, que suavemente invade os ambientes das salas. Ali, naquele momento desenham-se silhuetas do cansaço da espera, do cansaço de si mesmos, do contentamento de se estar em silencio, mas sabendo-se ouvido.

Desenham-se silhuetas de encantamentos e desencantos que dançam silenciosamente ao som dos clic’s e dos blurups.

Desenham-se silhuetas dos futuros amantes na intenção, e, somente nela, de ser amado tanto quanto consegue amar.

Desenham-se silhuetas de um silencio gritante que, sabe-se, atravessa de um lado ao outro à busca incessante daquilo que não se consegue saber na real existência.

Feitos de silêncios gritantes todos, que fechados em si rodopiam, se escondem e se mostram tal como são na troca dos seus nicks denunciantes.

Feitos de silêncios todos que gritam seus sons que ensurdecem e amordaçam a razão perdida da busca daquilo que não se sabe onde pode estar.

Feitos de sons todos que no silencio das emoções se espalham. Todos aqueles que revelam para a razão, que não se importam com o desalinho em suas vidas feito carretéis guardados por muito tempo e em gavetas hermeticamente fechadas.

Feitos de sons o peito que explode nas veias inundando todo o corpo num arrepio de saber-se buscado. Mesmo quando a razão declara ser tudo ilusão. Mesmo quando a razão mostra a chave que pode trancar cada veia, cada poro, cada gota de suor nascida da emoção no silencio que fica em cada um dos lados opostos diante das telas iluminadas pelas cores das salas.

Feito de sons e silêncios os dedos que buscam num dicionário guardado nas prateleiras da emoção, todas as palavras que possam despertar em cada letra no som das teclas, um carnaval constante da alegria de poder contar na escrita o que descreve o desejo. O que descreve a ansiedade de saber compartilhado tantos silêncios e tantos sons, ultrapassando as fronteiras de um e outro como se o curso fosse natural para ambos... Como se pudesse sair magicamente do ambiente virtual e repousar no real, as emoções lá contidas e onde devem permanecer guardadas.

Silencios e sons descrevem as situações das muitas emoções contidas nas salas. Sons e silencios são como o néctar dos deuses neste Olimpo do imaginário dos internautas.

Silêncios e sons permeam o espaço aberto fora dos engenhosos mecanismos tecnológicos que sustentam a partir deles, tantas emoções. Tantos apelos, tantos desvelos do sentir.

Há coisas, cuja certeza da existência está declarada, mesmo no silencio... Mesmo que a razão apele para a suposta indiferença querendo calar os gritos que ouvimos durante a madrugada quando todos já estão dormindo, e as salas estão abertas e acordadas nas suas expectativas das silenciosas possibilidades.
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“Não existiria som
Se não houvesse o silencio...
(...) Cada voz que canta o amor
Não diz tudo que quer dizer
Tudo que cala
Fala mais alto ao coração
Silenciosamente
Eu te falo com paixão
Eu te amo calado
Como quem ouve uma sinfonia
De silencios e de luz
Nós somos medo e desejo
Somos feitos de silencio e sons
Tem certas coisas que eu não sei dizer...”


(Certas Coisas – Lulu Santos)

2 comentários:

  1. Encantada,com tudo que li ...
    O silêncio, faz mais barulho, do que todas as outras coisas ... É o silêncio, que discute,
    na minha mente... Gostaria, de saber escrever,
    não sei ... Mas encontrei quem sabe !!!!
    Minha CHAVE é a da PAZ.
    Beijos
    Solange

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  2. Meus silencios são os que mais dizem tudo.
    Minha chave é a da ESPERANÇA.

    Parabéns, você é maravilhosa!

    Marcos

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