domingo, 1 de fevereiro de 2009

Entendendo as salas
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Eu começava a entender mais sobre as Salas.

Algumas, mesmo com títulos determinados, abrigavam nick’s que nada tinham a ver com estes. O maior exemplo estava na sala de Literatura Brasileira. Lá, encontrei muitos nick’s retirados das personagens de Machado de Assis, Guimarães Rosa, Gonçalves Dias e outros. Contudo, e, ao abordar esses nick’s, e falar sobre quaisquer coisas referentes às suas personagens, eles ficavam enrolados, mudos. Nunca sabiam descrever a idéia do autor para os mesmos dentro das histórias criadas para suas personagens.
Certa vez vi único nick nesta sala, que levava em suas mensagens alguns conhecimentos específicos sobre uma ou outra personagem. Ele enviava o tempo todo para os outros nicks informações, poesias e fragmentos dos romances mais conhecidos... Parecia que estava ali para alimentar os demais visitantes com tudo que ele escrevia e parecia saber. Era um micorrizo. Mas, acredito que maioria se alimentava tipo: engolindo guela abaixo sem saber do quê estavam se alimentando.

Havia nesta sala brincadeiras altamente sensuais entre os nick’s presentes. Havia, pude perceber inúmeras vezes, uma sensualidade exacerbada que, em alguns momentos faziam com que os nicks trocassem palavras de uma aspereza sem precedentes. Parecia um estado de cio que não dava conta das brincadeiras. Uma sensualidade..., virtual. Eles usavam e abusavam das descrições dos seus corpos, vendiam a idéia de que eram bonitos, sarados e com um biotipo do outro mundo, lógico. Penso que se Zeus pudesse descer ali, ficaria triste em olhar para Apolo. (risos)
Eu ria e ao mesmo tempo, ficava pensando em quanta coisa perdida num espaço que poderia ser tão rico. Mas, nem tudo pode ser do jeito que a gente idealiza... (risos)

Certa vez entrei na sala de Literatura Brasileira como Passárgada... para minha surpresa um nick acabou fraseando comigo toda a poesia de Bandeira. Achei bacana... (sorrio). Um nick numa sala alucinada sabia falar Bandeira... que máximo! Nem tudo está perdido.
Outra vez entrei como Capitu. Veio ao meu encontro um nick e colou no meu um fragmento: “... olhos de ressaca...” – ri, porque mesmo que fosse somente uma pequena lembrança sobre como Bentinho definia o olhar de Capitu, ainda assim o nick sabia o que estava escrevendo e para quem o estava escrevendo. Escreveu para uma personagem. Claro, não me atrevi a perguntar muita coisa, pois, que, já tinha visto o suficiente na sala. Tive receio de perguntar mais e ficar sem respostas. E, note-se, que naquele momento, ainda não estava em cartaz a minissérie da Globo (risos...).

Uma ou outra vez eu aparecia na sala de Literatura Brasileira... Sei lá, tinha a esperança de poder manter uma conversa num bom nível pelo menos com alguns. (risos...). Eu, uma pessoa declaradamente amante das palavras, sonhava em ter nesta sala um espaço com discussões pertinentes à nossa tão rica Literatura. Estaria eu sonhando? Penso que não, pois tenho encontrado, o que antes pensava não existir em certa quantidade, pessoas inteligentes. Tomara que muitas destas encontrem o rumo da Sala de Literatura Brasileira.
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Outra sala, esta interessante, é a sala de cinema. Lá eu entrei algumas vezes com um só nick. Isso, porque, logo da primeira vez fui abordada pelos que estavam na sala e faziam perguntas. Meu nick lá foi Dorothy Lamour – em homenagem à minha mãe. Ela chama-se Dorothy. Meu avô era fã da atriz e por isso colocou o nome dela na minha mãe.
Logo na primeira vez que entrei nesta sala, com este nick, fui bombardeada com perguntas sobre o porquê da minha escolha por ele. Os nick’s me davam até alguns títulos de filmes que foram estrelados por ela – com referências de época. Bacana o espaço da Sala de Cinema. Lá rolava um clima de cultura. E, para o mundo virtual, isso representava um enorme ganho. De certa forma eu ficava feliz, porque acabei perguntando a idade de uns nick’s, estavam entre 16 e 30 anos. Isso era bom, saber que a garotada discute cinema numa sala de bate-papo. Claro, tinha alguns que não fugiam à regra da loucura virtual. Mas uma grande maioria conversava sobre cinema. Faz tempo não apreço por lá. Nem sei se a salinha ainda é tão gostosa de se entrar. Não sei se continuam com o mesmo propósito – discutir sobre a cultura da sétima arte. Bacana!
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Há muitas salas que nunca tem sequer um nick. É assim com as salas da Educação, das Ciências, e de muitos outros títulos – inclusive, pasmem, com as salas de “Bares”, que são até numeradas. Lá quase não se vê vestígio de algum nick.

Fico tentando analisar, de certa forma, o porquê de não ter freqüência nestas salas. Se olho do ponto de vista mais crítico para a sala de Educação posso arriscar, e dizer que esta ausência reflete o que existe no país em relação ao Sistema Educacional. Em inúmeras vezes deixei meu nick por horas e horas na sala, sempre voltando para verificar se havia entrado alguém. Nada, nem sinal. Parece um deserto. Assim como o deserto de saberes presente às Salas de Aulas por este Brasil afora. Um deserto tão significativo, que me leva a refletir sempre, mesmo sendo apenas um título para uma Sala de Bate-papo.

A sala de Artes, de vez em quando tem um casalzinho presente. Se são artistas ou não, não sei. Sempre que perguntei, nunca obtive resposta. Mas sei que estão por lá.
Esta é outra sala que eu gostaria de ver cheia (risos), afinal, sou Arte-educadora. Sou cantora, sou Poeta. E, tenho encontrado alguns semelhantes. De vez em quando convido alguns a irem fazer uma visita à Sala de Artes. Mas, nesta imensidão de nada, os nicks somem. Nunca mais os vejo. Se, são artistas ou não, também fico sem saber.

A verdade é que cheias mesmo, ficam as Gerais. Estas sim, sempre com uma diversidade espetacular. Sempre com discussões das mais variadas possíveis. Discussões inteligentes, discussões ininteligíveis. Discussões sem propósito algum e discussões que nos levam a algum lugar.

Nas gerais, desfilam os grandes casos de amores. Os grandes casos de seduções. Os grandes casos de dores de amores. E as melhores histórias de vida.
É como se estivéssemos por detrás de uma janela de vidro com um fone que nos traz o pensamento de cada nick. Às vezes tenho a sensação de que vou ouvir o que alguns desses nicks escrevem. Suas mensagens, me vem com tanta riqueza de detalhes sobre seus comportamentos, que parece que estão muito próximos.
Hoje, alguns, deixam de ser apenas nicks e passam a ser pessoas, pois de tanto conversarmos, nos temos como pessoas conhecidas e bem quistas.

Nas Gerais a gente esbarra em muita coisa desagradável. Mas até o que nos é desagradável, nos permite uma reflexão, pois, se sabemos que ao fechar a tela, lá ficam os dissabores, então nada de carregar mágoas, rancores, tristezas etc. Contudo, não é bem assim que funciona. As pessoas agem ali, como se estivessem porta-à-porta com as outras. Como se fossem mesmo afetadas pelo que se diz numa ou outra ocasião. Neste momento me remete as possibilidades dos recursos tecnológicos existentes nas salas, e que nem sempre são usados. Numa situação de desconforto, as salas oferecem um “clique em IGNORADO” para facilitar a convivência. Mas, a mania que se tem de estar sempre pensando na porta ao lado, não permite que esta atitude se concretize. Então, em muitas situações, criam-se animosidades sem que precisem existir.

As salas de bate-papo são os únicos lugares no mundo, onde fechar a porta na cara, pode ser feito sem que precisemos necessariamente ter maiores complicações com a própria consciência. Portanto, IGNORAR aquilo que possa nos trazer dissabores, pode ser um grande exercício que as salas nos proporcionam e que podemos ter como possibilidades de ajuste fora delas também.
Pode ser que num espaço deste, ainda considerado como sendo um lugar de inutilidades virtuais, possamos aprender algumas lições de convivência, já que, sabemos da existência do OUTRO por detrás de cada nick que lá se apresentam.
Pode ser que este espaço imenso de tudo e nada, nos possibilite um momento real de “examinação” em nós mesmos, afinal, também somos nicks lá. Também levamos aos outros, nossos ransos, nossa solidão, nossos orgulhos, nossa felicidade, nossas alegrias e tristezas e nossa vontade fremente de nos comunicarmos com um mundo de possibilidades, encantamento, magias, que são estas salas virtuais.

Nossa ânsia em conhecer nos coloca no mundo diante de pontos onde as idéias permeam campos de referências tantas, que estamos sempre querendo demarcar territórios. As salas vem na contramão disso tudo. As salas apesar de unirem, o desconhecido e a consciência deste, nos oferecem a grande lição de podermos participar neste momento histórico da construção de uma modalidade de relacionamentos que fogem aos padrões descritos durante tanto tempo em nossa sociedade.

5 comentários:

  1. Maravilha Soninha!Top de linha o seu trabalho.Gostei de tudo que li. Não conheço este universo de comunicações, mas vou me interessar por ele. Ouço muitos comentários de alunos, mas nunca participei de um chat. Vou conferir. Preciso estar mais atualizada. Obrigada por nos brindar com informações tão ricas. Um grande abraço pra você. Parabéns.

    Ana - prof.Hist.

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  2. Oi vida minha!
    Saudades saudades saudades
    Precisamos nos encontrar para conversar mais.Estou amando acompanhar o seu blog. Vai virar livro heheheheheheeeeee. Tô dentro.
    Você é verdadeiramente íntima, não só das palavras, mas desse "universo de nada" como você diz. É tudo isso mesmo. Só quem convive nele é que sabe. Te adoro, você sabe disso. Só precisamos acertar nossos ponteiros. Não estão marcando a mesma hora hehehheeee.
    Beijo beijo.

    Klaus (não é nick não hehehheeeeeee)

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  3. Linda menina. Te amo cada dia mais.

    Eu mesmo...

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  4. você tá ficando meio brega, ein ?
    abs

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  5. sabe!quando eu "crescer "...rsrs quero ser igual a você.
    "mulher de lindos cabelos"vc é linda, por dentro e por fora.queria muito ser sua amiga, por qe "fã"eu já sou...rsrs
    todos os beijos do mundo pra vc .onde quer que esteja.

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