quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Apenas um Nickname
(parte 3)
Meu teclado de vez em quando não correspondia ao que eu precisava escrever, e alguns acentos haviam sumido (problemas na configuração...). Brincando sobre essas coisas da tecnologia surgiu um vocabulário muito interessante para definir o meu teclado, “teclado disléxico”. Cada coisa como esta era motivo para muitas dissertações na Sala de Jazz. Eu mesma ficava assustada com o rumo das conversas. Falávamos das coisas mais simples às mais complexas de maneira espontânea e com conhecimento de causa maioria das vezes... ou quase todas ou todas as vezes. Isso, dependendo do que estivesse em voga.

Começava a acontecer uma coisa interessante, eu percebia que é exatamente assim que acontece com os livros que amamos ler. A gente não se apaixona pelo escritor, mas pelas idéias que ele deixa escrita em folhas de papel – às vezes de péssima qualidade, dependendo da editora. Nem sempre conhecemos os donos das idéias (quando muito, uma ou outra fotografia exposta na capa do livro). Mas, muitas vezes usamos e defendemos idéias de quem jamais vimos, tocamos ou pelo menos estivemos por perto. Esse pensamento, de certa forma, me dava a tranqüilidade para não me sentir pouco à vontade em debater sobre salas de bate-papo e tecer comentários sobre gostar de conversar com nicknames, sei lá saídos de onde... (risos). Na realidade as salas para mim neste momento, eram como livros que contavam histórias. Eu as via sendo escritas ali, na hora do fato... E, depois, quando no meu computador aparecia LOGOF, era como se o livro estivesse sendo fechado. Isso, sem contar as inúmeras vezes em que eu ouvia (lia) aquilo que me fazia bem ouvir (ler) – (risos) nas salas lemos.

É, meus olhos tiveram que aprender a ouvir e minhas mãos a falar. Minha voz ficou muda. E tudo que ela sempre fez... falar, cantar, falar, cantar, falar... estava perdendo o sentido diante dos acontecimentos. Minha voz ficou muda.
Eu via meus dedos numa frenética busca de palavras que pudessem externar todo o movimento dos meus pensamentos; que pudessem carregar todas as expressões que pudessem traduzir-se em palavras, mesmo àquelas expressões que são difíceis até no olhar...
Meus olhos exercitavam-se numa corrida tão acelerada para absorver tantas coisas escritas, que meus ouvidos interferiam sempre... Chegavam a ouvir o que estava escrito, e em cada música trocada no ambiente da sala virtual a comunicação se dava de maneira aprofundada. Afinal, as músicas por nós escolhidas, de certa forma, revelavam um pouco daquilo que somos na intimidade. E, dependendo do estado de ânimo, as músicas vinham descrevendo nossas angústias, alegrias e/ou fragilidades. Assim, em muitos momentos cada um de nós era arguido em seus estados de ânimo. Claro, se eram sempre verdadeiras as respostas, jamais algum de nós saberá, mas elas vinham... E às vezes, vinham de forma escrita reafirmado na tela do computador cada verso da música daquele momento. Nós estávamos desenvolvendo esta comunicação – reafirmávamos cada verso das músicas trocadas, escrevendo-as. As músicas sempre nos dizendo coisas e nos tocando muito profundamente. Fazendo a nossa arquitetura de emoções... como se elas tivessem sido escritas e compostas para que as trocássemos nas salas. Uma afinidade musical “incomum” crescia entre alguns de nós.

A cada dia, e havia semana que nos encontrávamos quase todos, nossas conversas ficavam mais ricas e acima do comum para uma sala virtual. Eu gostava tanto do que conversávamos que inúmeras vezes copiei tudo.

Com Gero (nome reduzido do nick), era assim também. Ele tinha uma facilidade com as palavras, que me deixava encantada. Era como se eu estivesse lendo os meus pensamentos, escrito por outra pessoa... É, a essa altura do campeonato, já confundíamos nossas posições virtuais. Uma hora éramos nicknames e, em outra, éramos seres cheios de emoções, separados apenas e pelo nickname. Gero costumava escrever que o que tínhamos não eram afinidades comuns, mas sim incomuns, pois era justamente o que temos de incomum em nós que fazia com que estivéssemos à espera na sala virtual quase todos os dias – e, entrando madrugada adentro. De certa forma, eu começava a observar essa mesma coisa, tínhamos um prazer inexplicável de fazer provocações entre nós, que beiravam às questões mais complexas. Isso nos remetia às muitas reflexões que fazíamos sobre o comportamento humano, e, por conseguinte, falávamos de alegrias, tristezas, saudades, cheganças, amor, ódio, sorrisos e lágrimas. Filosofia era um grande evento nas conversas, sempre. E, depois de muito conversarmos, vinha o momento do maior encanto, era o momento da troca de midis. Estas cuidadosamente escolhidas. Falávamos através delas. Era como se, esgotadas as palavras que tínhamos, precisássemos utilizar as que estavam contidas nas canções. E à medida em que as midis iam se desenvolvendo, acompanhávamos reescrevendo-as em seus momentos mais marcantes. Assim, fixávamos aquilo que tínhamos diretamente ligado às músicas, como se as tivéssemos composto.

Falávamos do belo, suas concepções..., comecei dizendo:

- O conceito sobre, é muito subjetivo...
- Os nossos sentidos atingem a sua plenitude, quando estamos sós. Há momentos, que não admitem divisões, compartilhamento do belo.
- Isso tem nome, nomes...
- Momentos do eu sozinho. E o eu não é divisível. É solitário na sua beleza ímpar de essência.
- O bom é saber que somos plenos, e na solidão, aprendemos isso.
- Temos momentos de plenitude, de encontro com o eu... do resgate da alma no abraço de vísceras.
- Aí, nesse momento, dentro da perspectiva da emoção, pode-se tocar o invisível, o quase inatingível...
- Os sentidos siameses o quase inatingível, aproxima-se do possível nos momentos do eu sozinho...

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Dias e dias foram se passando. Logo ao amanhecer eu buscava a doce sensação deixada pelo dia anterior que me visitava em forma de melodias, de poesia, de conversas inteligentes e, de um ser jamais visto por mim – essa era a pior parte, não saber de quem me vinha tudo isso. E, por isso mais encantador era a correspondência que eu fazia com os livros. A cada situação vivenciada na Sala, me remetia às lembranças de ter lido Sidarta, Demian, O Menino do Dedo Verde, O Pequeno Príncipe, O Maior Vendedor do Mundo, Longe é Lugar Que Não Existe... rs. Livros com os quais me envolvi e criei, a partir deles, alguns conceitos espiritualizados para a minha vida.

Essa minha vivência na sala, com estes nicknames, estava criando em mim novos conceitos de relações interpessoais e seus processos de comunicações. Claro, na minha vida pessoal e fora da rede, havia um certo desconforto quando eu expunha de forma clarificada estes acontecimentos. Mas, eu pouco dava importância. E, além do quê, isso estava sendo um estímulo a mais nas minhas buscas pelo conhecimento humano. Uma coisa é você poder ver a pessoa com quem você convive. Outra coisa é você conviver com quem você jamais viu, mas que sabe da existência. E, que isto é real em algum lugar deste planeta e participa da sua vida como se estivesse a poucos passos. Esta é a grande magia e o grande encantamento das redes de comunicações.

Cada vez que eu pensava em rede, eu entendia o porquê da garotada ficar tão ligada numa Lan house.
Despejados da Cultura que lhes seria necessária, eles buscam suprir em rede aquilo que uma sociedade já não consegue oferecer. Hoje, o computador, a internet, faz à medida do desejo de cada um, o papel de suprimento. Pena que muitos que estão à frente, principalmente da Educação, não tenham ainda atentado para o fato de que não há mais como reverter este processo da comunicação em rede. Não há mais como fugir do fato de que estamos numa aldeia globalizada, divididos em tribos e com rituais próprios característicos de cada tribo. Só e com uma grande diferença... o grande Cacique, vem em ondas eletromagnéticas.
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9 comentários:

  1. Explêndido o seu Blog. Não a conheço, mas já tenho vontade de conhecê-la. Como vc escreve bem, menina! Gostaria muito de poder estar em contato permanente com vc. Vou mandar por e-mail o meu fone e msn. Estou fora do Brasil, mas quero muito estar em contato com vc.Felicidades!

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  2. Espetakular!!!!!!! hauashauashaushaus
    Ki massa!!! Adorei!
    Naum sei kem mi deu o end mas ki massa! Vou voltar aki pd esperar! xau

    kikotemkumisso ( heheheee.. meu nick)

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  3. Kara meu! bacana... gostei mesmo! Espera ki volto.
    Brigadim por me convidar a ler seu blog. Valeu mana! Beijim...

    Nato...

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  4. Linda. Você e sua escrita, lindas as duas. Recebi o convite de uma amiga para ler o seu blog. Estou encantada. A forma como você descreve a virtualidade é muito boa mesmo. Sou Tecnóloga sempre tive orgulho disso e agora mais ainda. Gostaria de manter contato, pois tenho trabalhos com pessoas que estão envolvidas com a rede de comunicação, mas como você disse não sabem como utilizar isso com sabedoria. Espero poder contar com isso. Um abraço e vou divulgar este espaço. Mais uma vez, parabéns!

    Nice

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  5. auhaushaus
    Tia Sônia ki lindo seu blog.
    Tô dentro! Smack procê! Te Amo muuuuiiitttooo!!!!

    Kakau

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  6. *J@de
    Amiga, me encantei com seu blog... Leia no Blogchat do Destemido(http://blogchat.spaceblog.com.br),no link "De Olho no Chat" o comentário que fiz. Aguardo seu comentário lá. Voltarei mais vezes pra ler vc. Bjss

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  7. Bom dia querida amiga
    Dando uma passadinha para lhe deixar um forte abraço e parabenizá-la pelo excelente blog.
    Aguardamos sua visita ao nosso BlogChat, apareça por lá e deixe um comentário.

    http://blogchat.spaceblog.com.br/

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  8. Coração Vazio

    Menina, diante de tantos eleogios, nem preciso dizer mais...está realmente muito bom...
    Suave e divertido...Misterioso e sem surprêsas aomesmo tempo...
    Muito gostoso de ler mesmo...
    ...estou esperando a continuação e ansiosa pra vc sair da sala de Jazz e ir para a sala 40..eheheh
    Bjssssssssssssss

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  9. Novamente passando por aqui para lhe parabenizar pelo blog.
    Estamos agora com um site exclusivo para os frequentadores do chat, gostaria muito de sua visita.
    www.blogchat.com.br

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