segunda-feira, 29 de junho de 2009

Bailando às escuras...


- Foi escrito para um casal de amigos, que, faz tempo, perdeu o passo num descompasso da vida a dois... que pena!
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Cada passo das personagens (Jatobá e Vera - novela América) no salão da Estudantina, retira suspiros, mesmo de pessoas que jamais vi sentarem-se à frente da televisão - medo de serem chamadas de noveleiras (risos...).
Percebo nos olhos delas o mesmo delírio que impulsiona o casal da telinha. Vejo passar por suas retinas, o baile do passado. O passo dado. O aconchego dos corpos. Os sussurros ao pé do ouvido. O toque das mãos na cintura, no ombro... E, tudo, visto num tempo muito distante. Como se suas vidas tivessem ficado pra trás e necessitassem daquelas personagens, daquela novela, para que pudessem voltar a bailar (pelo menos sonhando separadamente).


Lá, na novela, tudo é mágico. O tom verde dos vestido de Vera, de um tecido macio e esvoaçante. O decote que mostra a sensualidade da mulher bem amada. As mãos fortes do homem que a segura, mesmo sem saber de qual direção ela virá com o próximo passo (a personagem de Jatobá é cega), mas sabe que ela virá. Não faz diferença enxergá-la, basta sentí-la.
A iluminação do salão sugere o colorido dos sonhos da Gata Borralheira. A melodia remete às emoções, que só mesmo um príncipe de olhos como os de Jatobá (de um azul macio e terno), pode provocar na pele da mulher que espera rodar pelo salão de maneira leve, contudo sedenta desse amor em paz.


Mas, voltando ao sofá diante da telinha, vejo olhos fixos marejados e interrogativos: "Aonde foi que eu perdi o passo? Em qual parte da melodia?" - E, ao final da cena, vejo-os levantar em direções opostas - sala, cozinha (numa paradinha rápida para um gole d'água e, janela).
A janela da rua continua então, o que a telinha interrompeu. Só que, na telinha, as luzes já se apagaram. O capítulo terminou. Mas, aqui, o espectador continuou..., bailando às escuras.

Ela, sem as mãos que a segure forte, vem trôpega.

Ele, perdido nos passos e sem ritmo. Não há vestido verde. Não há olhos de príncipes. Não há mais sussurros...


E a melodia daqueles anos idos ecoa naquela sala pra quem quiser ouvir. Só é interrompida pela voz dela que chega e pergunta meio tímida: "Posso servir o jantar?"
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Deixo aqui o meu beijo a esses amigos, desejando que eles voltem um dia desses a acertar o passo dentro da melodia, que sei, ainda toca-lhes o coração.

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