domingo, 8 de março de 2009

Despedida e Reencontro
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O que dói mais, a despedida ou o reencontro? rs... Loucura? Definitivamente, não!
Toda despedida é quase sempre anunciada... Umas com desentendimentos, outras como projeto de quem as anuncia.

Por definição, “encontro”, segundo o Aurélio e, entre as suas várias definições, pode ser também o ato de “descobrir-se, achar-se” além é claro, das outras como: deparar-se com... defrontar-se com...

Imaginemos então o ato de poder encontrar-se a si mesmo a partir de um “deparar-se com" ou um "defrontar-se com..."

Situações como estas são bem comuns nas salas, com uma ressalva: o “deparar-se com” e/ou “defrontar-se com”, se dá de maneira quase revertida para um “encontrar-se” e/ou “achar-se” a si mesmo. Parece loucura, mas é bem por aí...

Pensemos as salas de chats como avenidas. Grandes avenidas de uma cidade estranha ao nosso conhecimento.
O trânsito e o ir e vir de pessoas muito intensos, às vezes desnorteiam o pensamento. E, quando isto acontece, o melhor é parar consultar novamente os propósitos e/ou endereços, para então seguir adiante.

No momento em que se dá a parada para reorganizar o curso que deveria ser seguido antes, o pensamento avalia rapidamente o fato. Nessa ponderação, o pensar nem sempre julga o que somente vê, mas espelha-se naquilo que também vê. Tudo que é visto tem um pouco de reflexo em quem vê. Tanto que, aquilo que é repudiado tem sabor amargo. E, se não fosse também composição de cada um, teria sabor algum. Daquilo que não tenho porção em mim, desconheço o sabor.

Assim começa o pensamento que me faz refletir sobre despedida e reencontro.
Desmembrando as palavras seria, numa forma simplória, assim: (des)pedida e (re) encontro.

No (des) pedida pode-se, também, ler: pedido de adeus; pedido de até mais ver; pedido de até qualquer dia; pedido de não me esqueça; pedido de “peça pra eu ficar”...
Assim, despedir-se traz em si uma dor que alucina os sentidos. Faz, antes do aceno final, a saudade exalar um odor de lágrima, suor e perfume de quem se (despe)de, pedindo que tudo isto aconteça e ao mesmo tempo.
O (des)pedir assim, dói... A gente sabe que vira saudade. A saudade fica num cheiro, numa música, numa imagem, numa mensagem... Mas tudo muito distante do tempo de agora. Fica lá no passado alguns minutos, algumas horas depois e alguns meses/anos, etc.
É aí que se dá o encontrar-se consigo mesmo. Penso este o pior momento, pois começa-se a questionar o inquestionável... o sentir! Começa-se a tecer regras que jamais serão seguidas. Fazem-se promessas que jamais serão cumpridas. E tudo para amenizar a dor da despedida. Da saudade... anunciada, antecipada.

O espelho é quem guarda a imagem da despedida e o apelo que ela traz em si. Lá ficam cravadas as imagens dos olhos sem expressão... distantes, ou simplesmente modificados pelo inchaço do choro.
Nessa hora tudo é horizonte perdido. Nessa hora o reconhecer-se em si mesmo é tudo que não se quer fazer, pois a fragilidade do ser apavora. Assusta. Consome. Marca. Contudo, numa despedida comum(no real) , digamos assim, pode-se ter a oportunidade do “segurar pelo braço” e do “olhar nos olhos”. E no silencio de um apelo, um abraço acontecer.

No plano virtual, a realidade(risos) é outra.
Imaginam-se tantas coisas, tantos gestos e tantas palavras... mas nada de concreto. Nada que possa dar alento, numa despedida nem sempre anunciada. Ainda assim as (des)pedidas e o/a despe(ir-se)didas acontecem.

A saudade no plano virtual toma uma dimensão muito maior, mais cortante.
No virtual a alucinação compõe com a saudade uma dupla de pecados que a toda hora cobra um pouco de razão no sentir de cada um. Razão esta que, se cobrada no plano real, muitas justificativas são dadas e também aceitas para e por elas. Mas, no virtual, fica como loucura. (risos) Aliás, uma loucura de muitos. E, se tantos já passaram por isto e, outro tanto ainda passa, seria bom entendermos de outra forma e não como sendo uma alucinação. Vamos entender então, como um estágio do sentir de uma forma não convencional. De uma forma mais desprendida de valores que somente se agregam num outro plano (o real), se vierem junto com as formas que se apresentam aos olhos – no caso, escolher o parceiro pela aparência e/ou pela posição social.

Assim, o encontro e a despedida no virtual teem um peso maior.

O encontro, sempre casual, demora a ser entendido. Só se percebe depois do defrontar-se com, ou consigo mesmo, a partir das semelhanças de idéias, de gostos, de apelos, etc. O virtual funciona como um jogo de espelhos...
Quase nunca durante o encontro percebe-se este como sendo um achar-se em si mesmo, isto é, ver no outro a própria imagem (claro, não em tudo).
Nesses encontros podemos entender a questão do “inconsciente coletivo” (Jung). Estamos num universo energizado por pensamentos cíclicos. Somos feitos da mesma essência, a humana. Nossa embriaguez do desejo, é a mesma em todo o universo ocupado por nós. Somos corpos que apelam, mentes que insinuam e veias que pulsam. Nisto, sem escapatória, estamos todos no mesmo barco... homens e mulheres!...

A (com) vivência virtual desses encontros modifica o comportamento e a vida de muitos no plano real. Para muitos oferece a esperança e o apego de poder sentir a vida na plenitude do estar ainda cheio de sonhos e desejos de concretizações – não tendo a menor importância de onde possam vir.
Para outros, a plena realização na conformação de, no anonimato, poder ser aquilo que se sonha todo o tempo. Sem ter necessariamente que ter doses em realismos exigidos por padrões definidos nas tribos de convivência real.

À medida que esse defrontar-se vai sendo assimilado, mais distante vai ficando a noção de que no virtual as relações se perdem de um momento para o outro, devido a facilidade que o anonimato propõe. Assim, quando a despedida surge dentro do reconhecimento da razão, a dor se instala de forma quase que irremediável. Só que, sem cheiro, sem braços para serem segurados, sem olhos para serem fitados e sem palavras ditas (talvez aos berros) num apelo do “fica!”, “stay”...

Depois disto, o desmoronamento é duplo... um no virtual. Outro, no real. O virtual traz para o real o que nele não coube... a grandeza do sentir! A irremediável combinação entre os corpos que desejam e ansiam, as mentes que insinuam (e aceitam) e as veias que pulsam.
Esta conjugação faz exatamente o que faz uma noiva deixada no altar ou um noivo abandonado à porta do Cartório Civil, enlouquece!

As salas a cada dia conjugam mais os verbos encontrar e despedir. Junto com eles vem sempre o despir e o pedir. Os verbos dão a forma exata na dimensão e no propósito de cada indivíduo no que ainda não conjuga e em primeiro plano: o “achar”. O achar-se a si mesmo para então e depois, encontrar-se com ou em alguém. Para depois então poder despir-se e não somente despedir-se de alguém a quem o afeto trouxe além do campo eletromagnético. Para que, na possibilidade de um reencontro, não se deixe baixar os olhos por não saber como olhar para quem deixou tantas feridas abertas.

Assim, penso, que tanto a despedida, como o reencontro (no virtual) teem sabor de um amargo que fica não só no paladar reconhecidamente como um dos mais perfeitos dos sentidos. Mas em todos os demais. Um amargo que escorre por todo o ser e, pior, de dentro pra fora. Saído das entranhas. Deixando à deriva um sentir sem dimensões. Sem perspectiva de um porto seguro.

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“...Mas pra saudade não tem hospital
Só tem um jeito de curar o mal
É só chorar, ver o tempo passar
Pra depois enxergar
O adeus, olá...”
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( Pare de me arranhar - Márcio Proença/Darcy De Paulo/Flávio A. De Oliveira/Marco Aurélio – interpretada por Simone)

Um comentário:

  1. Menina a cada texto você fica melhor. Parabéns por isso. Está muito além do que eu espereva. Merece ser lido por muitas pessoas. Estou fazendo a divulgação.

    Martha

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