quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Todo mundo em alguém
Todo o mundo em mim…

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Vivo me perguntando: quantas de mim, habitará em mim mesma?
Vejo em cada reflexo das ações do mundo, parte do que sou e, na hora em que sou. Às vezes, vejam bem, só na hora em que sou. Às vezes sem pátria, nem pai, nem mãe... rs...

Engraçado, ver, ler o movimento das salas. É bem isso.
É ficar tentando saber a cada palavra grafada, a cada expressão usada, quantos em cada um único nick podem existir realmente. É tentar imaginar, sem sucesso é claro, o perfil real de quem usa o nickname. Penso, às vezes, que nem mesmo o usuário sabe.
Nicks, são como cabrestos... rédeas frouxas, animal sem direção. É isso. Se, a ilusão do nickname fizer as vezes do nome social, acaba-se adquirindo personalidades de acordo com ele. Não há limite para a ilusão. O faz de conta vira verdade, incorrigível às vezes.

Como em todas as relações de convivência, nas salas a gente consegue peneirar algumas pessoas que conseguimos trazer para a convivência real. Isso às vezes nos custa um preço mais alto porque somos obrigados a andar na contramão do proposto pelas comunicações em rede.
Particularmente, consegui selecionar algumas pessoas para o meu universo particular. Uma dessas, tem sido uma grande aliada no que chamamos de “varredura”... (muitos risos). De tanto conversarmos sobre acontecimentos no cotidiano das salas, começamos a perceber alguns detalhes importantes na identificação de “tralhas”. Mas, como só perceber não conta, começamos a desenvolver uma espécie de defesa contra os “tralhas”.

DESCRIÇÃO DOS TRALHAS

Nota: definição de tralha, segundo o Aurélio é uma pequena rede de pesca que pode ser armada e/ou lançada por um só homem.

Tem sempre um kit preparado para iniciar a conversação, mas de maneira que envolva emocionalmente o nick atacado – no caso, o ataque é sempre ao nick feminino.
Sua conversa é cheia de mistérios, e quando escorregam em alguma coisa, retomam a conversa como se estivessem fazendo um teste com o nick oposto.
Dão sempre conselhos sobre estarmos atentas aos “lobos” existentes nas salas.
Discursam sempre sobre os perigos da net.
Sempre cordeiros e lobos, ao mesmo tempo, dizendo que assim poderão garantir a defesa de quem estiver com eles.
Amáveis, delicados no trato, gentis e sempre moram muito distante do local aonde se encontra o nick eleito para a aplicação do seu kit de tralhas.
Nunca se dizem bonitos, nem cultos, tampouco inteligentes...
Sempre se dizem sensíveis e que podem estar expostos aos grandes e nobres sentimentos, que por ventura, podem estar acontecendo ali naquele momento...

Claro, esta é a parte básica do kit dos tralhas. Diferente do kit dos chatos que inclui:

Vc tecla de onde?
Tem MSN?
Tem cam?
Qual a sua idade?
Como vc é?
Faz o quê?
É casada?
Tem filhos?
Gosta de sexo virtual?
O que vc procura aqui? (esta então mata qualquer cristão)

Além do famoso “oi, me add aí ... to on agora”

Mas, voltando ao kit dos tralhas, minha parceira de sala, era uma grande aliada para a detecção destes. Para sorte nossa e/ou azar deles (muitos risos), sempre acontecia deles apresentarem seu kit simultaneamente no nosso reservado. Assim, logo ao identificarmos o kit, comunicávamos uma com a outra e começávamos a dar muita, muita conversa ao pretendente dos nossos sentimentos mais puros. Ríamos muito entre nós. Mas sempre voltávamos com muita seriedade à conversa com o “tralha”. Depois conversávamos para encontrar pequenos detalhes que pudessem nos levar a um possível repetidor das mesmas besteiras – detalhe, muitos são tão bobos que não conseguem mudar a maneira de grafar. Outros, os mais freqüentes, já perceberam que estamos à espreita, então escrevem pouco. Tem até os que tentam escrever com erros absurdos de grafia, mas acabam colocando o “cedilha” e o “acento” sempre nas mesmas palavras. E, tem aquele que tenta confundir colocando seus erros ortográficos entre aspas. Mas, a conversa é sempre a mesma.
O tralha, é insistente. Muda de nick, fica por horas parado na sala observando tudo. E, quando perguntado se é o mesmo da outra vez, responde sempre que não.
É como uma naja, dança na frente da sua vítima. Desfila pra lá e pra cá. Só depois então mostra a língua.

E assim me pergunto: quantos anjos e demônios temos dentro de cada um de nós? O que nos faz crer que em determinado momento nossos demônios tem mais valor que os nossos anjos? Por que fica mais excitante brincar com nossos demônios e não com nossos anjos? Por que não deixar se misturar os dois num equilíbrio tão fantasticamente fascinante... o momento da descoberta do outro?!... Não importa de onde ele venha. Mas, se veio e está ali, por que não conseguimos manter este meio um , meio outro? Por que temos que nos fantasiar dando maior peso às nossas mais cruéis faces?

É obvio que nesta grande avenida desta cidadela chamada Sala de Bate Papo, os que estão ali, são homens e mulheres que pulsam. Nem de longe são adversários. Mas a batalha que se instala a cada momento é tão cruel, que muitos tombam... mas ninguém vence coisa alguma. Então, qual o sabor?

Minha parceira (hoje amiga) e eu, fundamos um clube no nosso MSN. Lá reunimos outras parceiras da sala, assim podemos discutir sobre coisas que podem nos manter alertas e formar um bloco de resistência a determinados comportamentos indesejáveis que encontramos a todo momento. Se, sexo frágil... pelo menos, não ininteligível.
Nossa empreitada nada tem a ver com quaisquer coisas relacionadas ao purismo das tribos existentes neste extenso corredor de convivências. Mas, é certo, que já está se espalhando (risos).

E muitas de nós somos apaixonadas, Senhores Tralhas, mas é pela vida!

Nossa capacidade de amar vai muito além das poucas mensagens recebidas nas salas e/ou, quando mais extensas, por e-mail – aprendemos algumas táticas do jogo.
Nas salas muitas de nós, vai para um divertimento quase impossível no dia a dia, o de encontrar com pessoas distribuídas geograficamente, equidistante.

Nossos anjos, tem o domínio dos nossos atos. Mas nem por isso deixa de respeitar nossos demônios.
Dizer quantas de nós existem dentro de nós mesmas, seria no mínimo querer contar estrelas... E o melhor para as estrelas, é serem admiradas!

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“Eu guardo em mim
Dois corações
Um que é do mar, um das paixões
Um canto doce
Um cheiro de temporal
Guardo em mim
Um Deus
Um louco
Um santo
O bem e o mal

Eu guardo em mim
Tantas canções
De tanto mar
Tantas manhãs...
Encanto doce
Um cheiro de um vendaval
Eu guardo em mim
Um Deus
Um louco
O Bem e o mal...”
(Danilo Caymmi)



2 comentários:

  1. A Lei é essa. Tem jeito não.
    E depois a gente vê.


    Tô Aki (meu nick)

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  2. Minha Princesa.
    Demorei para chegar até aqui, não porque não quizesse fazê-lo mas por falta de tempo. Hoje, entre uma viagem e outra e um carnaval no meio para me fazer descansar, estou aqui. Mais uma vez encantado com o seu poder de explicar com tanta facilidade toda a relação entre pessoas nas salas.
    Deixo aqui registrado o meu encanto por você como mulher e também como escritora. Espero encontrá-la muito em breve.

    José Marcos - Sir Eliot

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