domingo, 4 de janeiro de 2009

Um nick… Apenas um nickname
(parte 1)

Todas as possibilidades de impossibilidades e todas as ilusões estão presentes na net. Nela somos a ilusão. Somos o inatingível. Não temos corpo presente, vida presente. Não temos cheiro – desses que ficam no ar e nos remetem às emoções mais suaves ou às mais cretinas, sei lá.
Minha memória olfativa é incrivelmente apurada. Consegue revelar momentos de dias idos, com tanta perfeição, que às vezes me espanta. Cheiro tem lugar especial na minha vida – (risos) , e na net, isso não conta. Sacio meu corpo presente do lado de cá, com uma sonora inteligência de um nickname sem cheiro, do lado de lá.
Encontram-se vidas inteligentes e de bom gosto musical nesses espaços. Não muitas, mas encontram-se.

Normalmente, nas salas de bate-papos da internet, os visitantes não ligam para conversar comportadamente, e com isso, também quaisquer músicas que tocarem, não fazem diferença.
Acredito que deve haver uma correspondência desses comportamentos com alguma síndrome (risos - dessas que pesquisadores adoram).

Nessas salas, devido ao anonimato maioria dos nickname’s são exóticos, parecem fantasias de carnaval – umas beiram as dos destaques de Escolas de Samba, tamanha a quantidade de acessórios em forma de letrinhas, símbolos gráficos e outros bichos por aí afora. Além disso, uns usam fotos – das mais simples às mais estranhas. Têm fotos pessoais e fotos irreconhecivelmente estranhas aos nossos olhos – (risos) E, por trás de tudo isso, corações que pulsam, cabeças que abrigam cérebros e mãos que comandam os teclados dos computadores. Contudo, e, por não estarem à vista, fazem convites que vão do mais indecente ao de maior nível de escracho, que uma pessoa pode fazer ou receber. Ah!..., tem também aqueles, cuja idiotice nos provocam risos, e dos bons!
Por tudo isso talvez, as salas vivam tão cheias – um espaço de suposta e total liberdade...

Por acaso, simplesmente por acaso, descobri a Sala de Jazz.
Eu me encontrava num desses dias em que fica difícil a nós mesmos agüentarmos todas as nossas queixas. Esse dia para mim estava coberto de cinza, dia difícil em todos os sentidos. E, além disso, muito cansaço. Eu não queria entrar na sala 4 (minha primeira parada, salas de 40 a 50 anos onde já conhecia algumas pessoas – e até já havíamos nos encontrado no meu show), porque não queria impor a minha chatice a ninguém. Eu, não seria, por conseguinte, uma companhia agradável. Daí então, resolvi passear via on line – e, que passeio!... (riso)

Entrei na sala de Jazz. Normalmente salas com definições desse gênero, não são muito freqüentadas, parece que as pessoas só se sentem bem no meio de salas muito agitadas. Entrei por curiosidade e pensando no que se poderia encontrar num espaço desses...
A sala estava em silêncio total. Dois ou três nickname’s presentes, nenhuma midis. Educadamente cumprimentei a todos. Nenhuma resposta. Tudo bem. De novo, e novamente nada como resposta. Pensei: estão só os nicks, os donos deles (ou os que se apossaram deles) saíram. Resolvi então colar uma midi. Entrei num desses sites de midis voice e escolhi um jazz, aliás música apropriada para a sala. Escolhi Dave Brubeck – Take Five, muito apropriado para uma sala de jazz.
Enquanto fazia outras coisas no computador (como de hábito), ouvia o jazz. Minimizei a tela da sala. Fui surpreendida com outra música que foi colada logo após a do Dave Brubeck (e que não foi por mim...). Era My Funny Valentine. Uma gravação belíssima na voz do Michael Bublé.
Sala de bate-papo à parte, esta música (My Funny Valentine) faz história na minha, quando durante muito tempo, ficou exposta à minha apreciação, até conseguir me conquistar definitivamente. E, acabou virando o meu HINO – com direito a hasteamento de bandeiras (a emoção tem muitas) e tudo. Agora, imaginem: você está numa sala de bate-papo on line por acaso, e encontra um nick que sequer respondeu a sua saudação, mas cola o seu hino... Demais!!! O meu “uauuuu!!!”, saiu leve e solto, só aí então o nick começou a se comunicar comigo. Poucas palavras escritas e muita música – diga-se de passagem, ambas da melhor qualidade. Pausas pensadas (penso...), daquelas, que, se ao vivo, poderíamos ouvir a respiração. A qualidade da música era tal, que dava um toque mágico à conversa.
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Emoções de muitos dias haviam se acumulado em mim, e, até mesmo ficado contidas. Momentos de tomada de decisões, reorganização na vida financeira, estudos, projetos de vida sendo revisitados etc, etc.
Entrar na Sala de Jazz me fez bem, pois sou apaixonada pelo gênero. Além do mais, havia aprendido nos últimos três meses, que quem freqüenta salas de bate-papo on line, não precisa de divã. As loucuras são abundantes e liberadas nessas salas. As inúmeras vezes que entrei e entro nessas salas, consigo rir o suficiente para acalmar meus ânimos. Mas, ter entrado nesta de jazz, redirecionou meus pensamentos.
Não se espera que as pessoas venham para uma sala de bate-papo com disposição para conversar com seriedade sobre absolutamente nada. E, quando se encontra uma “alma” dessas..., a gente é obrigada a rever conceitos.
A imaginação vai além. Imagina-se um rosto, as mãos sobre o teclado, qual cheiro pode ter, como seria o sorriso a cada símbolo indicativo à ação de cada resposta escrita. Penso tanto, que, de repente, me assusto ao me ver presa às palavras de um nickname. Que absurdo! Mal da era – não o nick, mas todas as circunstâncias que nos levam à busca de vivências, cujos caminhos estão nas ondas de transmissão de redes.
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É fato, hoje, diferente de ontem, que não importa mais qual tipo de caligrafia você vai escolher para uma comunicação à distância. A caligrafia quem define é o programa que você tem instalado na sua máquina. Você apenas comanda as teclas dela.
Nossas cartas de antes vinham carregadas de emoções de um tempo em que levavam dias e dias para chegar ao destino. Essas emoções ficavam por dentro da gente até que viesse a resposta, em outra carta. Livros foram escritos versando sobre o envio de cartas, explicando até a Filosofia – “O Mundo de Sofia”, “Cartas a um Jovem Poeta”...
Hoje, para meu agrado, não precisamos remoer dias e dias em emoções, podemos saber simultaneamente o que acontece com as pessoas das nossas relações. Bem melhor.
Mas, em alguns casos, a semelhança com o passado é tal, que a gente então percebe o círculo, que nos envolve a vida. É o caso de alguns momentos nas salas de bate-papo e de alguns e-mail. Em determinadas situações, são como cartas para as quais escolhemos caligrafias e perfumes, para somente depois enviá-las. E, quando recebemos as respostas, ficamos buscando algo mais, como se quiséssemos tocá-las, como fazíamos até bem pouco tempo com as cartas e com os telegramas.
O que o tempo não faz...

É fato, que, diferente de ontem, já não se tem tanta preocupação com quem está do outro lado da linha. E, se tem uma história compatível com os nossos valores. A rede permite pensar assim, desprezando o que há por lá. E, lá, é longe demais para que se tenha quaisquer preocupações.
Esse espaço de coisas que não se sabe, esse vazio e esse tudo de nada, transforma-nos em qualquer coisa nas salas. A liberdade on line é tão liberdade (desculpem a redundância), que não há limites para os acontecimentos. Princípios, valores, ordem das coisas, sensatez e discernimento estão fora dos conceitos das salas na maioria das vezes.
Os que migram para lá (para as salas), deixam a sensação de que se despem das suas tradições, rompem com seus valores, para respirar a liberdade no espelho de si mesmos. Dá a impressão que seus segredos emergem de forma inatura – aqueles que não são contados nem no escuro(aliás só assim podem ser realmente segredos).
Em rede, e no anonimato da rede, pode-se deixar emergir o mais podre ou o mais puro que cada um possui, ninguém pode ver as transformações da fisionomia de ninguém. Os olhos estão na tela e não nos olhos. O pensamento ultrapassa os limites do inimaginável.
As salas, maioria, dão a idéia de terra de ninguém e, tudo pertence a todos. Uma verdadeira orgia tecnológica. Às vezes encontra-se com um ou outro nick com idéias coerentes. Mas o entra e sai das salas ocorre de maneira tão frenética, e as perguntas, quando não são idiotas ou absurdas, são tão imorais... Não sou purista, mas, devo confessar, que mesmo estando resguardada por um nickname, fico envergonhada em determinadas situações. E, em outras, fico furiosa e ainda em outras, fico pasma diante das loucuras escritas.

Isso é o mundo virtual de relacionamentos às escondidas – apesar de parecer às claras (risos).
Isso é o ápice da loucura humana – travestir-se com nomes roubados, ajustar-se a eles e agir como sempre se quis. Com total liberdade, já que a máscara desse mundo de ilusão faz bem o papel de resguardar a todos em suas identidades verdadeiras. Loucura... loucura!...

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Um comentário:

  1. Nossa que legal. Bom mesmo taí. Pensei que fosse chato taí gostei. Volto pra ve mais.

    Brigaduuuuu pelo convite.

    Seu Amor (H) (meu nick - hehehe)

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